Eu a entrevistei para uma revista para qual eu escrevia em Nova York na década dos anos 90. Estava lá estudando canto para interpretar la Callas, na peça Master Class de Terrence McNally. E também,
me confessou, para visitar sua filha Nina que morava na cidade.
Quando eu contei a ela que tinha traduzido, para o inglês, a peça Fala Baixo Senão Eu Grito, de Leilah Assunção, ficou interessadíssima, mas ficou por isso mesmo... só no interesse. Fala Baixo tinha sido o primeiro grande sucesso da carreira de atriz de Marília.
Ela entremeava seus comentários e histórias com palavrões e me pedia que, por favor, deixasse-os de fora do texto final. Lembro-me que na ocasião da entrevista, me contara ter sido assaltada 23 vezes no Rio, e que morava perto da Lagoa. Lembro-me também de que falava de seu amigo Miguel com muito carinho e que gostaria de que eu o conhecesse um dia...mas não aconteceu. Pareceu-me muito simpática quando junto de poucas pessoas, como na minhas duas ocasiões com ela.
A segunda ocasião foi em São Paulo, quando gentilmente me convidou para vê-la em Toda Nudez Será Castigada (meu texto preferido de Nelson Rodrigues) e, depois da peça, jantamos juntos. Logo depois disso, mandei-lhe um texto, um monólogo, mas, naquela altura, já tinha deixado de me responder. Seus assistentes barraram qualquer comunicação entre nós. Coisas de Brasil cor de anil.
Ela era louca pela Elis e, como todos sabem, eu também. Era tão fã de Elis que no único filme que fez em inglês, Mixed Blood, de Paul Morrissey, aqui nos EUA, ela usou,em sua blusa, um button com a foto da Elis. Naquela entrevista, me contara que ela e Elis, no início da carreira das duas, competiram para um papel na montagem da peça Como Vencer Na Vida sem Fazer Esforço, de Shepherd Mead. Foi quando os produtores norteamericanos foram ao Rio para a montagem e Leny Dale se encontrava entre eles. Na época, Elis namorava Nelson Motta que veio, eventualmente, a ser o marido de Marília Pêra.
Última vez que a vi, foi de longe. Estava em cima de um carro alegórico, no carnaval deste ano (2015) quando foi homenageada pela Mocidade Alegre, em São Paulo. Por coincidência, ou não, Elis também foi homenageada pela Vai Vai. A Vai Vai levou o grande prêmio, mas, na minha humilde opinião, a Mocidade Alegre foi a grande vitoriosa e, por tabela, Marília Pêra.
E, para terminar, uma constatação: o triste da ida de Marília é que ao procurar uma atriz que tenha a responsabilidade e o cuidado que ela tinha pela sua carreira... está difícil encontrar um nome sequer. Não existe.
Marília é única, ímpar, insubstituível.
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